O sujo e o mal lavado

Há umas duas semanas que ando profundamente incomodada com o nível acanalhado desta campanha eleitoral.


Não há discussão de programa, não há crítica consistente às políticas do governo.


Tudo se resume a baixarias, até com o recurso à mentira pura e simples.


Assim, a campanha vai se transformando numa enorme fuxicada, até com essa coisa imunda, ofensiva a todas as mulheres, de criticar Ana Júlia Carepa apenas por seus namorados ou pelo uísque que bebe.


O Pará tem, pela primeira vez em sua história, uma mulher no comando da administração pública.


E, verdade seja dita, não é uma mulher qualquer.


É uma mulher de raça, de guerra.


Uma mulher que não se contentou com um mero sobrenome, ou em ser uma simples dondoca.


Uma mulher que foi à luta, para conquistar o próprio espaço e o próprio nome.


Uma mulher que abriu caminho na política, que é um mundo dominado pelos homens.


Já era de se esperar, portanto, a reação virulenta de alguns homens que ainda ontem caíram de alguma árvore e nem se deram conta disso.


Já disse aqui e vou repetir: nunca vi essas vestais de Bataclan criticarem nem Jatene, nem Almir, nem Jader, nem Gueiros pelas amantes que tiveram e pela cachaça que emborcaram.


Nunca vi esses fariseus atirarem pedras em governantes homens – mesmo que esses governantes homens tenham transformado o Governo e o Estado num autêntico bordel.


Como era mesmo o nome daquela sobrinha com quem o Jader se casou? Como era mesmo o nome daquela amante a quem o Jatene deu um DAS bacana, e que tinha a idade da filha dele? Como era mesmo o nome daquela amante que o Almir pendurou na Assembléia Legislativa? Será que alguma dessas vestais de Bataclan sabe me dizer?


Ah, eu me esqueci!...Pra essas “Perpétuas de calças” esse negócio de sexo tem de ser ruim pra mulher. Porque mulher só pode fazer sexo é com a carteira deles, né mermo?


E ainda me vem esse bicheiro, esse porco, esse canalha desse Mário Couto – que só é senador no Brasil, onde o Senado virou habeas corpus de tudo que é contraventor – a falar mal do uísque (vejam só!) do uísque que a Ana Júlia bebe.


Esse fariseu, esse hipócrita, que, sabe-se lá quantas vezes, ficou de lambaio, enquanto o Almir emborcava garrafas e garrafas de scotch...


E ainda me vem o PSDB, que falava tanto em ética, a defender a imundície de um sujeito como o Mário Couto. O senador do bicho e da tapioca. O senador que até as pedras de Belém sabem muito bem como se elegeu...


E ainda me vêm os fiéis do PSDB – sim, porque, no Pará, o PSDB virou seita evangélica – a repisar a manicure, o piloto...


Mas será que esse partido virou uma simples central de fofocas, um simples tanque de lavadeiras? Mas será que esse partido, que ficou doze anos no poder, não tem proposta de governo?


E aí me vêm falar de nepotismo.


Sério, minhas queridíssimas vestais de Bataclan: quem é que, no Pará, pode falar de nepotismo? Os Barbalho? O Jatene?


Não que eu defenda o nepotismo – considero o nepotismo, sim, uma praga.


Mas, sinceramente: quem é que nesta nossa infeliz província pode falar mal da Ana Júlia e do governo por causa de nepotismo?


Mas aí alguém vai falar da nomeação da Élida Braz como assessora especial do governo.


E aí, embora revoltada, porque não entendo como se pode nomear a Élida Braz para uma assessoria de governo, serei obrigada a dizer: menos mal.


Ou vocês acham que há despautério maior do que o Carlos Santos como governador do estado?


Ou vocês acham que é “coisa menor” ter o Santino e o Vieira, por quatro longos anos, no comando da Segurança Pública do Pará?


Pra mim, o que existe claramente em tudo isso é aquela velha história do sujo que se põe a criticar o mal lavado.


Coisa que faz a festa dessas vestais de Bataclan, que nunca disseram um ai em relação ao Carlos Santos ou ao Santino e ao Vieira.


A política paraense precisa superar essa coisa infeliz de satanizar adversário ou ficar usando a vida alheia como mote de campanha.


Porque, se for passar a peneira na vida de cada um, não vai sobrar nem esta redatora.


Todos nós viemos da luta contra a ditadura – não há nenhum de nós que não tenha estado nesse front...


E o que a gente precisa é se respeitar mais.


O que a gente precisa é politizar o nosso eleitorado e quebrar com séculos de dominação, a bafejar o nosso povo e o nosso estado com a esperança de uma nova história.


Penso que o espelho, companheiros, é excelente conselheiro. Porque, ao nos revelar as rugas da Humanidade, nos torna, também, mais tolerantes.


Ou Jader, Jatene e Ana Júlia e todos os que possuem comando agem no sentido de segurar a galera, ou teremos uma das campanhas eleitorais mais sórdidas de todos os tempos.


O Pará não merece isso. O eleitor, o cidadão paraense, não merece isso.


Aliás, nenhum de nós, pela própria história de vida que construímos, merece isso também.


FUUUUIIIIIIII!!!!!!!!

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