Luiz Braga Olha Para o Céu


Autor da mais completa tradução da visualidade amazônica, o artista
paraense volta-se para as estrelas em nova série 

Num dado momento do dia amazônico o sol inclemente começa a desmaiar. Vagarosamente o que era intensamente iluminado passa a ser percebido apenas por nuances furta-cor. Em instantes as luzes artificiais do lampião do pipoqueiro, da praça, da barraca de açaí se acendem e transformam a paisagem numa paleta de cores tão peculiares quanto voláteis. A obra do fotógrafo paraense Luiz Braga, em grande parte, se espraia na tradução deste jogo cromático, não apenas pela exegese do belo, mas como uma espécie de antropologia escrita a golpes de luz e cor.
A Amazônia que resulta deste processo, logo, guarda uma considerável distância das imagens pasteurizadas e repletas de exotismos que povoam as publicações mundo afora e o imaginário europeu e norte-americano acerca do lúbrico encontro entre culturas mestiças, o calor constante e a exuberância da natureza. Formado em arquitetura, mas sempre ausente das aulas que aconteciam durante o crepúsculo - como estudar cálculos para a construção de uma ponte enquanto o efeito da luz do céu lá fora se constituía no acesso direto, sem necessidade de pontes, para imaginar e construir mentalmente mundos paralelos, surreais, cinematográficos? Braga, enfim, sem nunca exercer a profissão na prática, a usou como auxiliar do seu olhar na constituição de um senso incomum para a composição do quadro, a relação entre figura e fundo, uma geometria que se quebra e se reorganiza de acordo com os volumes que ele poeticamente decifra na paisagem.
Fote: Revista Pororoca

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