Belo Monte: operários podem grevar de novo ainda este mês

Por Jones Santos/Comunicação SDDH
Fotos: Ruy Sposati/Xingu Vivo para Sempre 
Operários de Belo Monte fecham rodovia
Os operários que trabalham na construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte voltaram aos canteiros de obras hoje, após suspender ontem a greve que começou na última quinta-feira, 29 de março. A suspensão da greve foi aprovada pelos trabalhadores após o Consócio Construtor de Belo Monte (CCBM) se comprometer a não demitir nenhum dos operários envolvidos na organização da greve.
Essa decisão dos trabalhadores, no entanto, não é final. No próximo dia 16, uma rodada de negociações será realizada entre os operários e o consócio para discutir a pauta de reivindicações. Se não houver avanço nas negociações, os operários paralisarão suas atividades novamente a partir do dia 18. Na pauta, os trabalhadores pedem melhorias em alimentação, transporte, segurança do trabalho, entre vários outros pontos.
“Nós incluímos também a reivindicação de plano de saúde para todos os funcionários, igualdade de salário entre todos os sítios de obras, o fim do desvio de função e o fim da perseguição, com a ameaça de demissão, aos trabalhadores que reivindicam seus direitos”, diz Francenildo Teixeira, um dos integrantes do comando de greve. Segundo o operário há, por exemplo, casos de carpinteiros trabalhando como pedreiros, ou soldadores nível 3 recebendo salário de soldador nível 1.
Polícia Militar é usada para intimidar trabalhadores grevistas
Outra reivindicação do comando grevista é a retirada da polícia do canteiro de obras. Para eles, a presença da PM é uma tentativa de intimidar a mobilização dos trabalhadores. “A polícia não devia estar aqui dando assistência pra uma empresa privada, não é função dela”, diz Francenildo. Desde o início da greve, a Polícia Militar faz escolta dos ônibus com os poucos trabalhadores que se dirigiam ao canteiro de obras. De acordo com os grevistas, a adesão dos trabalhadores chegou a 80% dos sete mil operários contratados pelo consócio.
Sindicato não representa os trabalhadores
Um dos problemas relacionado à organização dos operários em Belo Monte é a não representatividade do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada do Estado do Pará (Sintrapav). Apesar de todas as reivindicações, o sindicato não apoiou a greve dos operários e ainda tentou mobilizá-los para voltar ao trabalho, sem sucesso.
Um dos problemas enfrentados pelos trabalhadores foi uma declaração à imprensa de Wilmar Gomes dos Santos, presidente da Federação dos Trabalhadores na Indústria da Construção Pesada (Fenatracop), à qual Sintrapav é filiado. Wilmar disse, na última terça-feira, que os trabalhadores não estavam em greve, mas que a mobilização era de responsabilidade de movimentos sociais contrários à construção de Belo Monte.
Sem o apoio do sindicato, o comando de greve se formou a partir de uma organização independente, com representantes de cada um dos cinco sítios de construção de Belo Monte. Por isso, a rodada de negociação do próximo dia 16 envolve três lados: o Consócio, o Sindicato e o comando grevista.
Justiça impede acesso de movimento social a canteiro de obras
No meio de toda a tensão gerada pela mobilização trabalhista dos operários de Belo Monte, o juiz Wander Luís Lobato, da Comarca de Altamira, expediu um interdito proibitório que impede quatro integrantes do movimento Xingu Vivo para Sempre, que se opõe à construção da usina, de se aproximar dos locais das obras.
O juiz decidiu por essa liminar a partir de uma ação do Consócio Construtor de Belo Monte(CCBM), na qual a empresa alega que os integrantes do movimento teriam praticado, no decorrer da paralisação dos trabalhadores, “diversos atos ilícitos lesivos não só ao Autor [CCBM], como também à segurança dos colaboradores (…) e dos moradores da região de Altamira/PA”. Em sua decisão, o juiz diz que “há risco dos réus identificados e os não identificados, embaraçar o livre exercício da posse que exerce sobre os imóveis necessários ao projeto intitulado Usina de Belo Monte”.
Em seu site na internet, o movimento Xingu Vivo diz que as acusações do CCBM, na qual o juiz se baseou para conceder a liminar, são “fantasiosas”. Das quatro pessoas que são alvos da ação, três não estavam no local onde os trabalhadores em greve se reuniram para protestar. O único presente era o jornalista Ruy Sposati, que cumpria com sua função na cobertura dos acontecimentos da paralisação.
“Essa decisão da justiça viola o direito dos integrantes do movimento Xingu Vivo de se locomover livremente e ainda presume que existe uma intenção de crime por parte dessas pessoas”, diz a advogada da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), Roberta Amanajás. A SDDH entrará com uma contestação da decisão liminar do juiz e também com uma ação de reparação por danos morais contra o Consócio Construtor de Belo Monte pela tentativa de criminalizar o movimento Xingu Vivo e seus integrantes.

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