Marujada celebra homenagem a São Benedito em Bragança
Uma das mais importantes manifestações culturais do Pará, a Marujada,
teve início nesta terça-feira (25), em Bragança, região nordeste do
Estado. O evento, que acontece dentro da festividade em honra a São
Benedito, prossegue nesta quarta-feira (26), quando é comemorado o dia
do santo e encerrada a programação religiosa, iniciada no último dia 8
de dezembro.
De acordo com o presidente da Irmandade de São Benedito, João Batista, a devoção ao santo em Bragança tem sua origem profundamente ligada à presença dos antigos escravos negros na região. A Irmandade – entidade que, hoje, participa ativamente da festa juntamente com a igreja católica – foi fundada em 1798. Hoje, ela congrega cerca de 1.200 associados, embora a Marujada propriamente dita – que é a manifestação cultural onde predomina a dança como forma de expressão da devoção a São Benedito – seja aberta a qualquer pessoa. “Qualquer um pode participar da festa, basta saber dançar e estar vestido a caráter”, explica, acrescentando que os trajes dos marujos se diferenciam pela cor.
No dia 25, que é Natal, as vestimentas tem predomínio do azul, numa homenagem ao menino Jesus. Já no dia 26, data em que se comemora São Benedito, o tom em destaque é o vermelho, ambos conjugados com o branco, que aparece, por exemplo, nas blusas das marujas e nas calças dos marujos.
Só o item que normalmente fica fora dessa combinação é o chapéu, conforme informa a artesã Janete Mescouto, de 52 anos. Maruja desde criança, ela conta que, como se trata de um artigo caro (custa entre R$ 150 e R$ 200), a maioria dos marujos só tem um: o de fita vermelha. Vaidosa, ela, no entanto, tem os dois: o com fita azul, para dançar no dia 25, e o com fita vermelha, para o dia de São Benedito mesmo. “Faço questão de que tudo esteja combinando direitinho, pra poder ficar bonita e louvar São Benedito”, orgulha-se.
O capricho de Janete parece ter mais razões, além apenas da vaidade. Segundo a artesã, que é bragantina de nascimento, São Benedito já a socorreu em muitas ocasiões, o que lhe faz ter um carinho ainda maior pelo santo. “Ele me ajudou a alcançar muitas graças. Recentemente, pedi que fizesse o meu filho vender uma moto porque precisava de dinheiro para fazer um curso. E, graças a Deus, no mesmo dia, a moto foi vendida e o meu filho já está com a viagem marcada para fazer o curso”, revela.
Assim como Janete, dezenas de mulheres de Bragança e de fora fazem questão de participar do evento. São elas que comandam a Marujada, onde os homens têm um papel secundário. Todos, no entanto, estão subordinados à “capitoa”, espécie de diretora da Marujada, que tem como função zelar para que tudo saia conforme o esperado e ensaiado.
Há oito anos, quem exerce essa tarefa é Aracilda Corrêa, de 65 anos. Atenta, ela realmente não deixa passar nenhum detalhe despercebido. “Certa vez, chamei a atenção de um rapaz que queria dançar com uma blusa cujo tecido não combinava com as nossas saias. Como ele não tinha condições comprei o tecido e mandei fazer a camisa pra ele”, lembra. Tradicionalmente, a capitoa oferece o café da manhã para os marujos e marujas. Em seguida, todos se dirigem para a igreja, onde acontece a ladainha de São Benedito.
Após as orações, os devotos seguem para o barracão e dão início às danças, conduzidas por ritmos como a roda, retumbão, chorado, mazuga, valsa e xote bragantino. Lá, os marujos e marujas permanecem até a hora do almoço, que sempre é oferecido por um devoto, promesseiro ou marujo, chamado de juiz ou juíza. Este ano, o juiz foi o pequeno Pedro Jorge Souza, de 10 anos. A iniciativa foi da família de Jorge, para pagar uma promessa. “Tive problemas durante a gravidez do Jorge e corria o risco de perdê-lo. Além disso, o pai dele também quebrou uma perna um pouco antes de ele nascer e eu fiz uma promessa para São Benedito, para que me ajudasse com os dois e ele atendeu”, conta a mãe do menino, a comerciante Cristiane Ribeiro.
Para o padre Antônio Gonçalves, vigário da paróquia de Nossa Senhora do Rosário – a qual a comunidade de São Benedito está vinculada –, a manifestação cultural que a Marujada representa “embeleza o sentido religioso da festa de São Benedito”. O sacerdote lembrou características importantes do santo, que, segundo ele, teve uma vida de “humildade e dedicada aos outros”.
Não à toa, São Benedito é considerado o padroeiro das empregadas domésticas. Negro e pobre, ele exerceu diversas funções domésticas, incluindo a de cozinheiro, mesmo depois de já ter entrado para o seminário. “Por isso é comum encontramos, nas casas dos devotos, a imagem do santo com um pouquinho de pó de café aos pés, numa referência ao trabalho dele como cozinheiro”, aponta.
Elck Oliveira - Agêrncia Pará de Notícias.
De acordo com o presidente da Irmandade de São Benedito, João Batista, a devoção ao santo em Bragança tem sua origem profundamente ligada à presença dos antigos escravos negros na região. A Irmandade – entidade que, hoje, participa ativamente da festa juntamente com a igreja católica – foi fundada em 1798. Hoje, ela congrega cerca de 1.200 associados, embora a Marujada propriamente dita – que é a manifestação cultural onde predomina a dança como forma de expressão da devoção a São Benedito – seja aberta a qualquer pessoa. “Qualquer um pode participar da festa, basta saber dançar e estar vestido a caráter”, explica, acrescentando que os trajes dos marujos se diferenciam pela cor.
No dia 25, que é Natal, as vestimentas tem predomínio do azul, numa homenagem ao menino Jesus. Já no dia 26, data em que se comemora São Benedito, o tom em destaque é o vermelho, ambos conjugados com o branco, que aparece, por exemplo, nas blusas das marujas e nas calças dos marujos.
Só o item que normalmente fica fora dessa combinação é o chapéu, conforme informa a artesã Janete Mescouto, de 52 anos. Maruja desde criança, ela conta que, como se trata de um artigo caro (custa entre R$ 150 e R$ 200), a maioria dos marujos só tem um: o de fita vermelha. Vaidosa, ela, no entanto, tem os dois: o com fita azul, para dançar no dia 25, e o com fita vermelha, para o dia de São Benedito mesmo. “Faço questão de que tudo esteja combinando direitinho, pra poder ficar bonita e louvar São Benedito”, orgulha-se.
O capricho de Janete parece ter mais razões, além apenas da vaidade. Segundo a artesã, que é bragantina de nascimento, São Benedito já a socorreu em muitas ocasiões, o que lhe faz ter um carinho ainda maior pelo santo. “Ele me ajudou a alcançar muitas graças. Recentemente, pedi que fizesse o meu filho vender uma moto porque precisava de dinheiro para fazer um curso. E, graças a Deus, no mesmo dia, a moto foi vendida e o meu filho já está com a viagem marcada para fazer o curso”, revela.
Assim como Janete, dezenas de mulheres de Bragança e de fora fazem questão de participar do evento. São elas que comandam a Marujada, onde os homens têm um papel secundário. Todos, no entanto, estão subordinados à “capitoa”, espécie de diretora da Marujada, que tem como função zelar para que tudo saia conforme o esperado e ensaiado.
Há oito anos, quem exerce essa tarefa é Aracilda Corrêa, de 65 anos. Atenta, ela realmente não deixa passar nenhum detalhe despercebido. “Certa vez, chamei a atenção de um rapaz que queria dançar com uma blusa cujo tecido não combinava com as nossas saias. Como ele não tinha condições comprei o tecido e mandei fazer a camisa pra ele”, lembra. Tradicionalmente, a capitoa oferece o café da manhã para os marujos e marujas. Em seguida, todos se dirigem para a igreja, onde acontece a ladainha de São Benedito.
Após as orações, os devotos seguem para o barracão e dão início às danças, conduzidas por ritmos como a roda, retumbão, chorado, mazuga, valsa e xote bragantino. Lá, os marujos e marujas permanecem até a hora do almoço, que sempre é oferecido por um devoto, promesseiro ou marujo, chamado de juiz ou juíza. Este ano, o juiz foi o pequeno Pedro Jorge Souza, de 10 anos. A iniciativa foi da família de Jorge, para pagar uma promessa. “Tive problemas durante a gravidez do Jorge e corria o risco de perdê-lo. Além disso, o pai dele também quebrou uma perna um pouco antes de ele nascer e eu fiz uma promessa para São Benedito, para que me ajudasse com os dois e ele atendeu”, conta a mãe do menino, a comerciante Cristiane Ribeiro.
Para o padre Antônio Gonçalves, vigário da paróquia de Nossa Senhora do Rosário – a qual a comunidade de São Benedito está vinculada –, a manifestação cultural que a Marujada representa “embeleza o sentido religioso da festa de São Benedito”. O sacerdote lembrou características importantes do santo, que, segundo ele, teve uma vida de “humildade e dedicada aos outros”.
Não à toa, São Benedito é considerado o padroeiro das empregadas domésticas. Negro e pobre, ele exerceu diversas funções domésticas, incluindo a de cozinheiro, mesmo depois de já ter entrado para o seminário. “Por isso é comum encontramos, nas casas dos devotos, a imagem do santo com um pouquinho de pó de café aos pés, numa referência ao trabalho dele como cozinheiro”, aponta.
Elck Oliveira - Agêrncia Pará de Notícias.